sábado, 20 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Vista Cansada...
Quem disse ser capaz de olhar cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez? Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse
Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Criador escreve certo por linhas tortas, e que devemos respeitar o leito do rio. Afinal, cada coisa em seu tempo.
Se eu morrer, morre comigo um certo modo diferente de ver, o que todo mundo não vê, ou, de tanto ver, banaliza o olhar. Vê, não vendo.
O que me cerca, e o que me parece familiar, desperta curiosidade sim, pois meu campo visual da retina não é vazio. Vejo com olhos espirituais, semelhantes ao olhar de uma criança, que vê, de fato, o que o adulto muitas vezes está impossibilitado de ver. Meus olhos estão atentos e não são ingênuos para o espetáculo do mundo.
Concordo que infelizmente, há pais que nunca viram seu próprio filho, maridos que se recusam a ver e valorizar suas esposas, amigos que não sabem o sentido verdadeiro da amizade. Metades que não se reconhecem ou simplesmente se ignoram...
O mundo está cercado de gente com vista cansada, olhos gastos, opacos, sem brilho. Vista grossa a curto modo, só fortalece o orgulho e cria o monstro da indiferença.
Que tar?
Bicho esquisito esse, passa a viver trancafiado, recolhido e escondido nos corações retalhados de dor.
A vida continua, aqui ou no plano etéreo.
E em terra de cegos, quem tem um olho é rei!
(Vista Cansada, crônica do jornalista Otto Lara Resende; com adaptações By Kathy).